DESPERDÍCIO NA CAPITAL
Equipamentos para medir glicose são jogados no lixo
Tiras e aparelhos medidores distribuídos pelo SUS estão sendo substituídos; Ministério Público investiga o caso
Publicado no Super Notícia em 06/11/2010
FLÁVIA MARTINS Y MIGUEL
Milhares de tiras e aparelhos para medição de glicose - distribuídos nos 147 centros de saúde da capital aos diabéticos - estão sendo jogados no lixo. Um erro de planejamento para a mudança do sistema de distribuição dos produtos trouxe prejuízo para os cofres públicos. O desperdício foi confirmado ontem pela Secretaria Municipal de Saúde. O Ministério Público investiga o caso.
Segundo o órgão, a responsabilidade pelo repasse das fitas e aparelhos era dividida entre prefeitura e governo. Agora, no entanto, ficará a cargo apenas da Secretaria de Estado de Saúde. Com isso, o modelo dos produtos será trocado e todos aqueles distribuídos no dia 15 outubro - com data de validade para pouco mais de duas semanas - estão sendo dispensados.
A reportagem flagrou várias caixas de fitas e aparelhos sendo descartados em uma caixa de papelão no Centro de Saúde Vilas Reunidas, no bairro União, região Nordeste da capital. Em apenas meia hora, oito diabéticos devolveram o material. Novos equipamentos e fitas foram, posteriormente, entregues aos pacientes.
Desde os 10 anos, a filha de 13 anos da dona de casa Adriana Sôlha e Silva Guimarães, de 46, tem diabetes tipo 1, que exige um maior controle e torna os pacientes dependentes de insulina. Adriana critica o número insuficiente de fitas de medição oferecido pela poder público, que, no caso de diabéticos do tipo 1, são 150 unidades a cada 50 dias.
"Eu tenho condições e posso comprar mais fitas em farmácias particulares para minha filha para completar o número, porque ela precisa de controlar pelo menos cinco vezes ao dia. Mas acho um absurdo terem deixado as fitas quase vencerem. Podiam ter disponibilizado mais caixas para as pessoas antes disso acontecer", afirmou Adriana, que também foi chamada pela unidade de saúde para a troca do produto.
O preço pago pela prefeitura da capital por cada tira de medição de glicose é R$ 0,48, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Cerca de 12,5 mil pessoas são atendidas pela distribuição gratuita de insulina, tiras e equipamento para medição glicêmica.
Burocracia é a causa
A burocracia exigida pelas licitações no contrato de novos fornecedores, de acordo com o médico Sidney Maciel, referência em Saúde do Adulto e Idoso da Secretaria Municipal de Saúde, dificulta o planejamento para evitar perdas dos medicamentos e produtos. Segundo ele, a mudança dos serviços de distribuição, que passou a ser de responsabilidade do Estado, retardou o processo e resultou na sobra de tiras de medição de glicose. "A questão do planejamento quando a gente lida com licitações dificulta acertar matematicamente as coisas". (FMM)
Fotografo: Chales Silva Duarte